29. DE VOLTA À ROTINA

     Caliel e Checarion partiram em um raio de luz para o Céu.
    - Volto logo, minha querida. Muito obrigado por tudo. Dessa vez, foste tu meu anjo da guarda – declarou Caliel à sua protegida, antes de ir embora.
     Lágrimas gorduchas escorreram pelas bochechas da doutora, que não conseguiu dizer nada além de um simples...
     - Tchau!
   Cansada e um tanto abalada, Margô logo em seguida desabou no sofá ao lado dos companheiros da última aventura, que já dormiam amontoados. Ela também já fechava os olhos, mas foi interrompida pela curiosidade alheia.
    - Não, não, não! Nada de dormir! De jeito nenhum! – chegou berrando Celeste – Quero saber tudo! Tudo, tudo, tudo!
     - Agora não, Celeste!
     - Agora, sim, senhora!
   A ruiva retrucaria mais uma vez. Porém, além de Celeste, Beterraba e Sorondo também já estavam a postos em frente ao sofá. Era melhor ceder.
    - Sei que precisa descansar, doutora. Mas, passamos dias de imensa preocupação. Por favor, nos conte o que vocês passaram. Depois, poderá dormir sossegada – pediu o mordomo do laboratório.
     - Tá bem.
   Cada um puxou uma cadeira e sentou-se em torno de Margô, que passou as próximas duas horas narrando os detalhes da aventura e respondendo a todas as dúvidas dos amigos. Depois do falatório, Sorondo serviu um chá de camomila à doutora, ajudou-a a subir as escadas e chegar até a cama.
     - Bons sonhos, Margô.
    Não houve tempo de a doutora responder. O sono foi mais rápido e fez companhia a ela pelas 24 horas seguintes.
     Ao acordar e descer as escadas, a chefe do laboratório deparou-se com todos agitados, trabalhando e conversando pelos cotovelos. Ela não quis interromper a empolgação da equipe e, por alguns minutos, ficou parada, sem descer os degraus.
    - Por que meu anjo da guarda não aparece como fez o Caliel com a Margô? – Beterraba soltou a pergunta no ar.
     - Hahaha! E eu? Que nem sabia que a gente tinha anjo da guarda! – respondeu Baldo.
     - Depois do que passamos debaixo da terra, acredito que cada um de nós tem é um exército de guarda, não um anjo só – brincou Zé.
    - É possível, amigo. Não sei o que seria da gente se o Checarion não tivesse aparecido na hora H! – completou Baldo.
    - Para ser honesta, eu também não sei. O importante é que permanecemos unidos e completamos a missão que nos foi designada. Estou orgulhosa de vocês, mais uma vez – falou Margô, para surpresa dos demais, que não haviam percebido a presença dela. A doutora, além de uma ótima equipe, sabia que contava naquele laboratório com excelentes amigos, amigos para toda a vida.
     - Precisamos agora dedicar força total a algumas encomendas que estão atrasadas. Afinal, trabalhamos desfalcados nesses dias em que vocês estiveram nas profundezas do mundo! – lembrou Beterraba.
     - Você tem razão, Betê. O dever nos chama! – empolgou-se a doutora, que desceu as escadas correndo para ajudar os companheiros.
     No último degrau, o salto do sapato vermelho de Margô arrebentou. A ruiva cambaleou três passos à frente, girou 180 graus, tropeçou no pé de uma das cadeiras do laboratório, patinou no piso que Sorondo havia encerado no dia anterior, rodopiou mais uma vez no próprio eixo e estava prestes a estatelar de cara numa imensa estante de livros (que provavelmente cairia depois sobre ela), quando, zup!, a barra do vestido da doutora ficou presa na quina de uma das mesas. A roupa esticou, não arrebentou, e Margô desacelerou até parar de pé, sã e salva, no meio do laboratório.
     - Margô!!!
     - Você tá bem?
     - Se machucou?
     - Que perigo!
    A ruiva respirou fundo, aliviada. O coração batia mais rápido que tamborim de escola de samba.
    - Uau! Estou bem. Mas, essa foi por pouco! – resumiu a doutora.
    O grupo foi acudir Margô e a fez sentar. Sorondo correu à cozinha apanhar um copo d’água com açúcar.
    Enquanto a doutora bebericava uns goles, o sábio mordomo observou.
    - Certamente seu anjo Caliel também já voltou ao trabalho, Margô.

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