24. CONFRONTO

     Quando o capeta te chama para briga, o que você faz?
     Eu, provavelmente, correria para longe, o mais rápido possível. Zé, no entanto, que tem vários parafusos soltos na cabeça e não tem medo de cara feia, não pensou duas vezes e partiu de punho fechado em direção ao Diabo.
     O bigodudo só não contava com uma coisa... O Mestre do Mal, apesar de não ser nenhum faixa preta em jiu jitsu, aprendeu alguns golpes vendo MMA na TV e contra-atacou. Quando Zé disparou um cruzado de direita, o capetão abaixou-se e aplicou um gancho de esquerda direto no queixo do pobre, que desabou no chão na mesma hora. Nocaute.
     - Zé! – gritou Margô, sem que o amigo pudesse ouvi-la.
     Dali para frente ficou claro que a batalha não deveria ser travada por meio da força.
     - Você tem algum outro plano, doutora? – questionou Baldo.
     A ruiva foi sincera.
     - Desta vez, não!
     - Meus Deus, e agora, o que faremos? – pensou alto Baldo.
     Lúcifer ouviu o clamor do outro e mais uma vez não segurou a gargalhada.
     - Tolo! Aqui embaixo Deus não tem poder algum! Hahahahahahaha! – completou o diabo, mostrando os dentes afiados.
     Na verdade, Deus apita em todos os lugares. O Inferno não é o reino do capeta, inatingível pelo divino, como Lúcifer julgava. O Inferno, na verdade, funciona mais como um presídio, onde Deus antigamente trancou os anjos rebeldes que tentaram tomar o poder no Céu – e no qual ainda enjaula os que descumprem a Lei. E, como em todo presídio, Deus tinha por lá seus agentes e vigilantes infiltrados.
    - Caro Príncipe das Trevas, já está na hora de tua festa acabar – ouviu-se por trás das legiões de capetinhas armados – Por favor, entrega a garrafa que tens em mãos para a senhorita. Caso contrário...
      Louco de fúria, Lúcifer se esticou para avistar quem proclamava tais absurdos desafiadores.
     - Quem ousa falar desta maneira comigo?!!! – berrou o Diabo, tão alto e repleto de ódio que deixou surdo (verdadeiramente surdo) um pobre capetinha que estava ao seu lado.
    O sujeito, então, avançou e revelou-se. Tratava-se de um demônio pouco mais alto e forte que os demais, com o olhar tranquilo, ombros altos e sorriso bonachão – características nada comuns aos seres das profundezas. À medida que avançava, a vermelhidão da pele dele foi-se abrandando, a cauda pontiaguda deixou de existir – e um enorme par de asas reluzentes abriu-se nas costas do capeta. Em verdade, um anjo.
      - Checarion! – surpreendeu-se Lúcifer, o único a reconhecer o outro.

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