13. VERDADEIRO OU FALSO?


     Rui Rico não parava de sorrir. Sequer quando dormia, os lábios permaneciam arreganhados, com os dentões iluminados te tanto clareamento eternamente à mostra.
     A esposa de Rui, Rita Rico, sempre tomava um susto quando acordava no meio da noite para fazer xixi ou beber um copo d'água. Ela olhava para o lado e lá estava o marido, de olhos fechados, mas sorrisão largo estampando o rosto. Era assustador.
     - Preferia quando ele roncava toda noite – queixou-se para si mesma uma vez.
     Rita, no entanto, suportava quieta aquele novo jeito estranho de o maridão dormir. Ela acreditava que Rui estava assim infinitamente feliz porque, desde a última pesquisa, há duas semanas, eram dele 99% das intenções de voto dos eleitores brasileiros! Nunca antes na história deste país – e do mundo todo – alguém tinha alcançado tal marca. 
     Os adversários estavam desesperados. Como um sujeito que ninguém mal conhecia há poucos meses seria, dali alguns dias, o futuro presidente do Brasil?
     - Como? Como?? Como??? - esbravejava Tina Dupep, a atual chefona do país, que tentava a reeleição – Quero que me expliquem isto, seus incompetentes! Na verdade, não quero mais. Vocês estão todos demitidos!
     Era a quinta vez que ela trocava de equipe.
     O mesmo haviam feito os outros sete candidatos perdedores. Sem resultado.
     Na TV, quando Rui Rico aparecia, era um encanto. As moças, os moços que gostam de outros moços - e, no fundo, todo tipo de moço - achavam o candidato mais bonito e atraente que o Brad Pitt e o George Clooney juntos. Para as crianças, Rui era mais querido e aguardado que o Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa. Para os vovôs, mais experientes, o candidato era o melhor político que eles já haviam visto, melhor que Getúlio, que o Juscelino, que o Jânio, os militares (coisa não muito difícil), FHC, Lula, Dilma... Em comparação à Tina Dupep, então, nem se fala! 
     Votem em mim, votem em mim, votem em mim, eram as palavras que ecoavam na mente dos brasileiros que, todos os dias, por incrível que pareça, não perdiam um só programa eleitoral gratuito. Engraçado: quando o povo desligava a TV, ninguém se lembrava de uma só proposta.

***

     Há milhares de quilômetros, nas Profundezas Eternas, sentado em um trono de ossos, o Mestre do Mal gargalhava. Em suas mãos havia uma garrafa vermelha, cujo interior abrigava um rosto feito de fumaça, que se retorcia em aflição.
     - Tua alma é minha, Rui Rico. E com ela, vou conquistar o Brasil... e depois todo o mundo! Hahahahaha!

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